sábado, 8 de novembro de 2008

Sobre a culpa e o medo (ou: Olhos vermelhos e nariz inchado)

Culpa do que a gente faz, do que a gente não faz, do que a gente nem sabe mas fez.
De não medir as conseqüências, de agir por impulso, voltar toda a situação contra si mesmo quando na verdade não era bem assim.
Aquela que a gente sente sem querer, sem ter motivo pra sentir, "que fiz eu para merecer isso" bem nesse estilo Almodóvar, bem nessa pungência de sentimento agudo, arrebatador, aquele telefonema e aquela notícia que te deixa estupefato. Porque não era nada demais, era só uma discussão, como foi virar todo esse caos e essa culpa e essa mágoa, e a culpa mais um pouco, culpa que não deveria ser.
Porque tudo acaba sendo essa confusão, porque o universo conspira pra que, assim que o quebra cabeça começa a se reunir, tudo se desmonte e mais uma vez lágrima, silêncio, um olhar fugindo do outro e quando se encontra briga, mais brigas por nada, nem se sabe por onde começamos.
E dá vontade de fugir, de sair correndo, de se jogar do alto do shopping, de sei lá, de tentar voar só pra ver se o ar entra mais fácil e consegue fazer o caminho até inflar os pulmões, porque tudo é sufocante, não há oxigênio que baste pra tanta angústia e a respiração pára, entalada na garganta.
E sempre do pior jeito, sempre com quem mais se quer bem e mais se ama, sempre com quem você vê todo dia toda hora e dá bom dia e boa noite e enquanto não chega a hora de dormir uma tentando evitar a outra e por que? Por que não pode ser mais fácil? Por que é tão difícil se entender, viver bem, falar A e entender A ao invés d B, C e D, e por que mentira, por que exagero, por que as proporções exacerbadas, por que uma lente de aumento e de invencionice em cada evento fora do padrão? E dentro do padrão? E por que não tratar com mais naturalidade?
E o medo de tentar conversar, o medo de tentar resolver, o medo de tentar acertar os ponteiros e construir aquilo que as duas precisam para ser completas. O silêncio preenchendo o medo de cada uma de sentar, esclarecer as coisas. E se não for assim? E se não se entenderem menos ainda? Sempre dá pra piorar, eu penso, mas não vale o risco? Porque ruim por ruim, quem tem medo do péssimo?
Eu. E minha mãe.

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